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Fábula do Custo do Amendoim - Uma reflexão sobre custeio variável e absorção.


Esta fábula (Leone, 1994; 403) se destina a destacar, de forma curiosa e criativa as diferenças entre os dois conceitos de custeamento: absorção e variável. Leia com atenção à pequena história e faça suas próprias reflexões sobre as críticas do contador de custos a respeito da decisão tomada pelo dono do restaurante da esquina quando resolveu dispor de um pedaço do balcão para vender saquinhos de amendoim.

FÁBULA DO AMENDOIM

Joaquim, o dono do restaurante da esquina, resolveu vender, além dos seus produtos normais, pequenos pacotes de amendoim, para aumentar seus lucros.
Seu contador, o Sr. Apropriador de custos, que vem mensalmente encerrar os livros do restaurante, avisa ao nosso Joaquim que este tem uma “bomba em suas mãos ‘.

CONTADOR: Joaquim, você me disse que quer vender estes amendoins porque grande número de pessoas deseja comprá-los; será que você já pensou no custo?

JOAQUIM: É lógico que não vai me custar nada. É lucro líquido. É verdade que eu tive de pagar R$ 3.750,00 prateleira, mas os amendoins custam R$ 9,00 o pacote e eu venderei por R$15,00. Espero vender 50 pacotes por semana só para começar. Em 12 semanas e meia cobrirei o custo da prateleira. Depois disso, terei um lucro líquido de R$ 6,00 por pacote. Quanto mais vender, maior o lucro.

CONTADOR: Este seu ponto de vista é antiquado e completamente irreal. Hoje em dia, os métodos aperfeiçoados de contabilidade permitem que façamos um estudo mais aprofundado, que demonstra a complexidade do problema.

JOAQUIM: O quê?

CONTADOR: Quero dizer que devemos integrar toda a operação “venda de amendoins” dentro de sua empresa e apropriar aos pacotes de amendoins a sua parcela correta do total das despesas gastas. Devemos apropriar aluguel, luz, aquecimento, depreciação, salários dos garçons, do cozinheiro, etc.

JAOQUIM: Do cozinheiro? O que é que ele tem a ver com os amendoins? Ele nem sabe que eu os vendo.

CONTADOR: Olhe Joaquim, o cozinheiro trabalha na cozinha, a cozinha prepara a comida, a comida traz os fregueses que serão os compradores dos amendoins. Por isso é que deve apropriar ao custo das vendas dos amendoins tanto uma parte do salário do cozinheiro quanto uma parte do seu próprio salário. Veja este quadro de demonstrativo; ele contém um analise de custos cuidadosamente calculados e indica que o lucro operacional deve ser igual a R$ 191.700,00 por ano, para cobrir as despesas gerais.

JOAQUIM: Os amendoins? R$ 190 mil reais por ano, para cobrir as despesas gerais? Essa não…

CONTADOR: Na verdade, o total dessas despesas é um pouco superior a isto. Todas as semanas você tem despesas com limpeza e lavagem das janelas e do chão, com a reposição dos sabonetes consumidos no lavatório e com cervejinhas para o guarda. O total sobe a R$ 196.950,00.

JOAQUIM: (Pensativo) – o vendedor de amendoins me disse que eu conseguiria bons lucros – era só colocar os pacotes perto da caixa registradora e pronto – R$6,00 de lucro por pacote vendido.

CONTADOR: (Torcendo o nariz) – Ele não e um contador. Você sabe quanto lhe custa à porção de espaço sobre o balcão ao lado da caixa registradora?

JOAQUIM: Não custa nada – não cabe nem um freguês extra – e um espaço morto, inútil.

CONTADOR: O ponto de vista moderno sobre custos não nos permite pensar em espaços inúteis. O seu balcão ocupa 6m² e as vendas anuais totalizam R$ 2.250.000,00 por ano. Logo, o espaço ocupado pela prateleira de amendoins lhe custara R$ 37.500,00 por ano. Desde que você retire aquela área de uso geral, deve debitar o seu custo ao ocupante real do espaço.

JOAQUIM: Você quer dizer que eu devo acrescentar R$ 37.500,00 por ano a mais como despesa com a venda de amendoins?

CONTADOR: Justamente. Isso elevara os custos gerais de operação a um total geral de R$ 234.450,00 por ano. Ora, se você quer vender 50 pacotes de amendoins por semana, estes custos representarão R$90,00 por pacote.

JOAQUIM: O que?

CONTADOR: Evidentemente devemos acrescentar a isto o preço de compra de R$9,00 por pacote, o que nos dará o total de R$99,00. Ora, se você pretende vender cada pacote por R$ 15,00, obterá como resultado uma perda liquida por pacote de R$ 84,00.

JOAQUIM – Existe aqui alguma coisa esquisita.

CONTADOR – Veja os números. Eles provam que a venda de amendoins e deficitária.

JOAQUIM– (Com um sorriso inteligente) – E se eu vender muitos pacotes – mil pacotes por semana, em vez de 50?

CONTADOR: (Com um ar tolerante) – Joaquim, você não entendeu o problema. Se o volume de vendas aumentarem, o mesmo acontecera cm os seus custos operacionais – maior numero de pacotes, maior o tempo gasto, maior depreciação, mais tudo. O princípio básico da Contabilidade de Custos e invariável: “Quanto maiores as operações , maiores os custos gerais a serem apropriados.” Não, o aumento do volume de vendas não o ajuda em nada.

JOAQUIM: OK, já que você sabe tudo, o que devo fazer?

CONTADOR – (Condescendente) – Bem, você poderia reduzir seus custos operacionais.

JOAQUIM – Como?

CONTADOR: Mude-se para um imóvel de aluguel mais baixo. Diminua salários, mande lavar as janelas somente de 15 em 15 dias; não coloque mais sabonetes nos lavatórios, diminua o custo por metro quadrado do seu balcão. Por exemplo, se você conseguir reduzir suas despesas em 50%, a porção das despesas gerais apropriadas a venda dos pacotes de amendoins passara de R$ 234.450,00 para R$ 117.250,00 por ano, reduzindo o custo a R$ 54,00 por pacote.

JOAQUIM (Não muito satisfeito) – Será isso interessante?

CONTADOR É lógico que sim. Contudo, ainda assim você perderia R$ 39,00 por pacote, se seu preço de venda for somente de R$ 15,00 por pacote. Portanto, você deverá aumentar o preço de venda. Se desejar um lucro de R$ 6,00 por pacote, o seu preço de venda deverá ser igual a R$ 60,00.

JOAQUIM (DESOLADO) – Você quer dizer que, depois de reduzir minhas despesas de 50% ainda tenho que cobrar R$ 60,00? E quem vai compra- ló, a este preço?

CONTADOR Isto é uma constituição secundaria. O que interessa é que R$ 60,00 é um preço de venda baseado em uma avaliação real e justa dos seus custos operacionais já reduzidos.

JOAQUIM– (Satisfeito) – Olhe. Eu tenho uma idéia melhor. Por que não jogar fora os amendoins?

CONTADOR Será que você vai superar tal perda?

JOAQUIM – Certamente. Só possuo 50 pacotes – ou seja, R$ 450,00, e mais prateleira no valor de R$ 3.750,00; jogo tudo fora e pronto, acabou-se esta porcaria de negócios de amendoins.

CONTADOR – (Balançando a cabeça) – Joaquim, isto não é tão simples assim. Você está no negócio de amendoins. Se você jogar fora esses amendoins você estará adicionando R$ 234.450,00 de despesas gerais anualmente ao total das suas despesas operacionais. Joaquim seja realista, esta perda você não pode suportar.

JOAQUIM – (Desesperado) – É incrível. Na semana passada eu estava ganhando dinheiro. Hoje, eu estou atrapalhado – só porque pensei que amendoins sobre o balcão… só porque eu pensei que amendoins por semana.

CONTADOR – (Com um olhar serio) – o objetivo dos estudos modernos de custo, Joaquim, é eliminar essas falsas ilusões.


EXPLICAÇÃO

A fabula foi imaginada para mostrar, de forma cômica, os defeitos do conceito do custeio por absorção na análise de certas decisões. O emprego das apropriações de despesas e custos gerais aos produtos e serviços que geram receita pode gerar situações como a apresentada pelo restaurante do Sr. Joaquim e por seu contador de custos. Com certeza, se o contador de custos se aproximasse um pouco do conceito do custeio variável em suas reflexões, iria verificar que a nova forma de aumentar as receitas, pela venda de pacotes de amendoim, seria bastante lucrativa. Outra maneira de analisar a situação decorrente da nova atividade, paralela e secundaria, poderia ser orientada pelo emprego dos conceitos de despesas e custos relevantes, quando vai buscar conhecer quais as despesas e os custos que se alteram com a instalação da nova venda.